O ator norte-americano Charles Bronson (1921-2003), foi um dos
mais famosos intérpretes da indústria de sonhos de Hollywood. Sempre
interpretando personagens durões, Bronson celebrizou-se em papéis nos quais
destacava-se pelo estilo “bobeou levou chumbo”, “atire primeiro e pergunte
depois” ou então, “bateu, levou”.
A popularidade do astro rendeu-lhe uma verdadeira fortuna. Sendo
sucesso de bilheteria por definição, o artista faturava alto em cachês
milionários. Nos anos 1970, enchia o bolso com um milhão de dólares por filme
rodado.
Mas, se a trajetória de Bronson como artista de cinema era
unanimidade, a origem do ator sempre foi alvo de controvérsias. O motivo: os
traços do ator, a começar pelos olhinhos puxados, que eram entendidos como
sinal de ascendência indígena, mexicana ou então, como fruto de algum tipo de
mestiçagem com não-europeus.
Ledo engano. Bronson, nascido Karolis Dionyzas Bučinskis e
registrado no cartório de Ehrenfeld, na Pensilvânia, como Charles Dennis
Buchinsky (transliteração de Bučinskis), era filho de pai lituano e de mãe
polonesa, ambos muito pobres, que sobreviviam a duras penas para criar os 14
irmãos e irmãs do futuro astro na região das minas de carvão dos Montes Apalaches.
Todavia, não só isso. O pai de Charles Bronson, Valteris Bučinskis,
não pertencia à etnia lituana, majoritária no país de onde imigrou para os EUA.
Valteris era tártaro, membro de uma minoria étnica em grande parte muçulmana
(Valteris era católico), conhecida como lipka
tatar na Lituânia e como tatarzy
polscy, na Polônia, povo que alcançou a Europa Oriental junto com os
exércitos do temido (e terrível) Gengis Cão.
Instalados no Reino Dual da Polônia-Lituânia, durante séculos os
tártaros serviram com grande brilho na cavalaria (por sinal, uma típica
expertise mongol) e como soldados de elite nos exércitos dos países adotivos, saindo-se
vitoriosos em sucessivas batalhas contra invasores e agressores estrangeiros.
No Século XX, milhares de tártaros poloneses e lituanos imigraram
para os Estados Unidos, seguindo para diversas regiões da terra do Tio Sam e em
particular, formando uma sólida comunidade islâmica, The Islamic Center of Polish Tatars, no bairro do Brooklin, em Nova
York.
A este respeito, breve parêntese: Um tio avô polonês, que imigrou
para os States nos anos 1930, morava
próximo da mesquita dos tártaros. Estranhando o visual destes adeptos da fé de
Maomé, foi informado pelos vizinhos de que eram índios convertidos ao islamismo.
Meu tio avô não gostou dos Estados
Unidos e retornou para a Polônia, aonde viria a morrer durante o Holocausto. Contudo,
passou a narrativa deste episódio sobre os tártaros aos parentes e assim, esta
história chegou aos meus ouvidos quando criança.
Voltando ao nosso fake
índio, que obviamente era a cara do pai (honrando o dito popular “tal pai, tal
filho”), Bronson sempre assumiu sua identidade lipka tatar e lituana (falava lituano fluentemente), e no caso do
país de origem do pai, sua lealdade motivou-o a mudar de sobrenome.
Inconformado com a ocupação soviética da Lituânia, que manietou o
povo lituano numa autêntica algema de lágrimas, e sendo anticomunista de
carteirinha, Bronson tirou do RG o sobrenome Buchinsky (americanizado para Bronson), que soava como sendo
russo, fato que criava ainda mais confusão para alguém que era tido como índio.
Por esta via, quem sabe, não poderia ser definido como um índio
russo?
O caso de Bronson revela também o papel pivotante das percepções e dos estereótipos, que por sua inconsistência, nos lembram, uma vez mais, que o importante mesmo é o que a pessoa é. A origem, tanto faz.
Disto decorre uma nota essencial: cada um é o que é, e esta condição não pode ser objeto de estigmas, nem de exclusão. Apenas deve ser aceita. Simples assim.
Deixe o seu comentário se assim desejar.
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