Mauricio Waldman

2012: Com o Gatão, felino decano da casa          2010: Palestrando na Câmara de Joinville           2006: Foto Verbete Wikipedia English Edition

Mauricio Waldman

1990: Autografando Conversão da Dívida      2004: Palestra Águas Globais em Ribeirão Pires       2010: Feira Internacional do Livro São Paulo

Mauricio Waldman

1990: Em evento na Represa Billings, no ABC           1999: Diretor da escola da FEBEM                       1996: Treinando Arco e Flecha outdoor

Mauricio Waldman

2011: Encontro Ambiental de Marabá, Pará   1998: Encontro Nacional de Geógrafos, Bahia    2015: Instituto Federal do Sul de Minas

Mauricio Waldman

1991: Secretário de Governo em São Bernardo     2006: Autográfos Editora Senac         2012: Com Rainhas e Princesas do Samba paulistano

terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

CHARLES BRONSON: O ÍNDIO QUE VEIO DA LITUÂNIA


O ator norte-americano Charles Bronson (1921-2003), foi um dos mais famosos intérpretes da indústria de sonhos de Hollywood. Sempre interpretando personagens durões, Bronson celebrizou-se em papéis nos quais destacava-se pelo estilo “bobeou levou chumbo”, “atire primeiro e pergunte depois” ou então, “bateu, levou”.

A popularidade do astro rendeu-lhe uma verdadeira fortuna. Sendo sucesso de bilheteria por definição, o artista faturava alto em cachês milionários. Nos anos 1970, enchia o bolso com um milhão de dólares por filme rodado.

Mas, se a trajetória de Bronson como artista de cinema era unanimidade, a origem do ator sempre foi alvo de controvérsias. O motivo: os traços do ator, a começar pelos olhinhos puxados, que eram entendidos como sinal de ascendência indígena, mexicana ou então, como fruto de algum tipo de mestiçagem com não-europeus.

Ledo engano. Bronson, nascido Karolis Dionyzas Bučinskis e registrado no cartório de Ehrenfeld, na Pensilvânia, como Charles Dennis Buchinsky (transliteração de Bučinskis), era filho de pai lituano e de mãe polonesa, ambos muito pobres, que sobreviviam a duras penas para criar os 14 irmãos e irmãs do futuro astro na região das minas de carvão dos Montes Apalaches.

Todavia, não só isso. O pai de Charles Bronson, Valteris Bučinskis, não pertencia à etnia lituana, majoritária no país de onde imigrou para os EUA. Valteris era tártaro, membro de uma minoria étnica em grande parte muçulmana (Valteris era católico), conhecida como lipka tatar na Lituânia e como tatarzy polscy, na Polônia, povo que alcançou a Europa Oriental junto com os exércitos do temido (e terrível) Gengis Cão.

Instalados no Reino Dual da Polônia-Lituânia, durante séculos os tártaros serviram com grande brilho na cavalaria (por sinal, uma típica expertise mongol) e como soldados de elite nos exércitos dos países adotivos, saindo-se vitoriosos em sucessivas batalhas contra invasores e agressores estrangeiros.

No Século XX, milhares de tártaros poloneses e lituanos imigraram para os Estados Unidos, seguindo para diversas regiões da terra do Tio Sam e em particular, formando uma sólida comunidade islâmica, The Islamic Center of Polish Tatars, no bairro do Brooklin, em Nova York.

A este respeito, breve parêntese: Um tio avô polonês, que imigrou para os States nos anos 1930, morava próximo da mesquita dos tártaros. Estranhando o visual destes adeptos da fé de Maomé, foi informado pelos vizinhos de que eram índios convertidos ao islamismo

Meu tio avô não gostou dos Estados Unidos e retornou para a Polônia, aonde viria a morrer durante o Holocausto. Contudo, passou a narrativa deste episódio sobre os tártaros aos parentes e assim, esta história chegou aos meus ouvidos quando criança.

Voltando ao nosso fake índio, que obviamente era a cara do pai (honrando o dito popular “tal pai, tal filho”), Bronson sempre assumiu sua identidade lipka tatar e lituana (falava lituano fluentemente), e no caso do país de origem do pai, sua lealdade motivou-o a mudar de sobrenome.

Inconformado com a ocupação soviética da Lituânia, que manietou o povo lituano numa autêntica algema de lágrimas, e sendo anticomunista de carteirinha, Bronson tirou do RG o sobrenome Buchinsky (americanizado para Bronson), que soava como sendo russo, fato que criava ainda mais confusão para alguém que era tido como índio. Por esta via, quem sabe, não poderia ser definido  como um índio russo?

Assim sendo, o falso índio (ou mexicano) Charles Bronson nos demonstra a volubilidade das paixões humanas. Para os que gostavam de Bronson, nunca importou a origem do célebre ator. Por outro lado, a genealogia muitas vezes é recordada como um handicap dirigido aos que não são gostados.

O caso de Bronson revela também o papel pivotante das percepções e dos estereótipos, que por sua inconsistência, nos lembram, uma vez mais, que o importante mesmo é o que a pessoa é. A origem, tanto faz.

Disto decorre uma nota essencial: cada um é o que é, e esta condição não pode ser objeto de estigmas, nem de exclusão. Apenas deve ser aceita. Simples assim.


MAURÍCIO WALDMAN
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Charles Bronson was an American actor who had Tatar roots:

Learn More about the Tatar people:

In the Footsteps of Poland's Only Muslim Minority: 

terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

OS AFRO-HÚNGAROS DO SUDÃO



Deve-se ao padre e escritor humanista francês François Rabelais (1483-1553), a máxima que segue: A África sempre traz alguma coisa nova, uma prédica que o autor deste texto, como antropólogo africanista, não tem nenhuma dificuldade em confirmar.

O dado novo deste texto (ao menos, creio eu, para a maioria dos possíveis leitores), é a existência de uma comunidade de africanos descendentes de húngaros que está desde séculos, assentada na Núbia, no Norte do Sudão.

Nos anos 1930, o explorador húngaro László Almásy (1895-1951), misto de aventureiro e estudioso da África, encetou expedições no continente com repercussão internacional.

Com efeito, László Almásy organizou as primeiras expedições motorizadas que atravessaram o Saara, percorrendo o interior do deserto, o vale do rio Nilo e alguns dos sítios menos conhecidos do Planeta, como a Meseta de Gilf el Kebir e o enigmático Oásis Zarzura, rincões localizados nos confins fronteiriços saarianos da Líbia e do Egito.

Assim foi que em 1935, atravessando a região do Wady Halfa, no norte sudanês, László descobriu um grupo inteiro de núbios, autoproclamados magyarabs, que mesmo separados por séculos da nação húngara, mantinham claro sentimento de identidade própria, entendendo-se como diferentes de todos os demais vizinhos.

Com efeito, pesquisas de László Almásy e de vários antropólogos, confirmaram que de fato, os magyarabs, resultaram da mestiçagem de soldados húngaros a serviço do Império Otomano que chegaram à Núbia no início do Século XVI, quando então, se uniram a mulheres africanas locais. Contudo, sempre mantendo consciência de uma linhagem húngara.

De fato, esta compreensão está explicitada no próprio nome do grupo: o etnônimo magyarab, composto de dois termos: magyar (como os próprios  húngaros se autodefinem) e ab (significando tribo, ramo ou linhagem no idioma núbio), desdobrando-se, pois numa tradução direta, em “tribo dos magiares”.

Os magyarabs, atualmente somariam, a considerar as estimativas de Mohamed Hasan Osman, porta-voz da Associação dos Magyarabs, entre 50 a 60 mil pessoas. Outras fontes, como o orientalista István Fodor, calcula seu número entre 10 a 12 mil. Porém, independentemente do número exato, o que ninguém põe em questão é que os magyarabs são por definição, “a tribo húngara da África”.

Atualmente, os magyarabs ocupam vilarejos próximos do Lago Nasser, reservatório que surgiu a partir de 1960 com a construção da represa de Assuã e que inundou o território ancestral do grupo, a região do Wadi Halfa, que por sinal, apresenta topônimos derivados da palavra magiar.

No mais, a “tribo perdida" dos húngaros na África, mesmo que de há muito tenham deixado de falar húngaro e de praticar o cristianismo, não deixaram de se considerar magiares, tanto assim que orgulhosamente ingressaram em 1992 na Federação Mundial de Húngaros.

O governo da Hungria não deixou por menos, apoiando os magyarabs, que resguardando forte identidade como húngaros, têm estreitado as relações com o país que afetuosamente entendem como a terra dos seus antepassados.

Faz séculos, quando perguntados sobre a sua origem, os magyarabs respondem: "Ana magyar". Isto é: Eu sou húngaro

Com tamanha resiliência à mostra, quem pode duvidar disso?


MAURÍCIO WALDMAN
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Magyarabs, el pueblo nubio que procede de húngaros del siglo XVIMagazine Cultural Independente - La Brújula Verde

O topônimo magyarab consta no Mapa Topográfico da região de Wadi Halfa, bem próximo da fronteira com o Egito, peça elaborada pelo British War Office and Air Ministry em 1960, disponível on line em:

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

A CONSPIRAÇÃO DO CORONAVÍRUS


Para a teoria da conspiração que tem circulado, argumentando que o coronavírus escapou ou foi liberado por “alguém”, parte da mídia do Oriente Médio já tem a resposta: foi uma conspiração dos EUA e Israel para arruinar a economia chinesa.

Além do coronavírus, os dois países são também apontados como responsáveis por outros surtos epidêmicos na China e no mundo árabe, assim informa o Instituto de Pesquisa em Mídia do Oriente Médio (MEMRI).

No início de fevereiro, o jornal oficialista sírio Al-Thawra afirmou: “Do Ebola, Zika, SARS, gripe aviária e gripe suína, passando pelo antraz e pela doença da vaca louca até o vírus corona, todos esses vírus mortais foram fabricados pelos EUA e ameaçam aniquilar os povos do mundo” [ ... ] “Os EUA transformaram a guerra biológica em um novo tipo de guerra, com o qual pretendem mudar as regras do jogo e desviar os conflitos do caminho convencional”.

Já o site de notícias egípcio Vetogate.com aprimorou mais ainda a narrativa, especificando o modus operandi dos conspiradores: “As fábricas americanas são as primeiras a fabricar todo tipo de vírus e bactérias, do vírus da varíola virulenta e do vírus da peste bubônica a todos os vírus que vimos nos últimos anos, como a doença da vaca louca e a gripe suína", afirmou o site.

Do mesmo modo, o site egípcio comenta as motivações econômicas, dado que os supostos mentores da difusão do vírus captariam “bilhões de dólares gastos na China em tratamentos e medicamentos de emergência”, que a propósito, informa Vetogate.com “serão fabricados por uma empresa israelense”.

A respeito do relatado, cabem os reparos:

1.  A imprensa árabe extremista tem ao longo dos anos colecionado “conspirações sionistas”: alastramento da AIDS, prática de rituais de sangue e criação do “mito do Holocausto”. Logo, o coronavirus seria tão só mais uma das maldades de Israel.

2.  Israel e China assinaram acordos de comércio de alta tecnologia nos últimos anos. A Israel não interessa perder milhões de clientes.

3.  Em Janeiro de 2020, a China assinou com a administração Trump acordos que garantirão centenas de bilhões de dólares para empresas americanas. Assim, os EUA teriam menos motivos ainda para por em risco a nova galinha dos ovos de ouro.

4.  A China, até agora a primeira e principal vítima do vírus, não se pronunciou sobre eventuais responsáveis, sejam estes conspiradores ou não.


MAURÍCIO WALDMAN
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Middle East Media Research Institute (MEMRI)

Reddit: the front page of the internet





quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

A MULHER QUE PEITOU O AIATOLÁ KHOMEINI



Oriana Fallaci (1929-2006), escritora e jornalista italiana, foi uma das mais influentes profissionais da imprensa no Século XX. Natural de Florença, envolveu-se com o ativismo político desde a mais tenra idade. Aos dez anos, participava da resistência ao fascismo e à ocupação nazista da Itália, e por esta razão, foi condecorada pelo exército italiano aos 14 anos.

Não havia nada que “La Fallaci” gostasse mais do que enfurecer aqueles que pensavam ser seus pretensos amigos e aliados. Não deixava pedra sobre pedra: questionava conformistas, emparedava “fascistas vermelhos”, os defensores da Guerra do Vietnã e os apaziguadores da opinião pública.

Feminista, Oriana Fallaci foi também destacada defensora dos direitos da mulher, e nunca abriu mão deste ativismo, sendo um dos seus alvos, o inconformismo que manifestava ao que entendia como imposição da passividade e submissão das mulheres através da Sharia, o código religioso muçulmano.

Em 1979, seguiu para o Irã para entrevistar o Aiatolá Khomeini. “La Fallaci” bombardeou o sisudo líder com questionamentos sobre comportamento ditatorial, despotismo e é claro, sobre a situação da mulher no Irã, detendo-se na obrigatoriedade do véu islâmico, que a jornalista fora obrigada a colocar para entrevistar Khomeini.

“Nossos costumes”, respondeu Khomeini, “não são da sua conta. Se você não gosta da vestimenta islâmica, nossos costumes não dizem respeito a você, porque a vestimenta islâmica é boa e adequada para as mulheres jovens e respeitáveis”.

“Muita gentileza da sua parte”, respondeu Fallaci. “E aproveitando o ensejo, vou tirar esse farrapo medieval e ridículo, agora mesmo”. Fallaci jogou fora o véu e deixou o recinto sem dizer nada.

No dia seguinte, fazendo um dos repetidíssimos discursos com acusações contra o Ocidente, Khomeini, contrariado, mencionará o encontro publicamente, chamando Fallaci de “aquela mulher” e culpando os “inimigos” do Irã por procurarem “ludibriar um punhado de meninas para que tirassem suas hijabs na rua”

Hoje, milhares de iranianas, seguindo “aquela mulher”, estão organizando protestos sucessivos contestando o uso obrigatório do xale, uma mulher que tem nome: Oriana Fallaci.  

MAURÍCIO WALDMAN
Jornalista – MTb 79.183-SP
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Jornal Corriere Della Sera

Chronicles from the Holocene

The Independent’s

http://www.oriana-fallaci.com/