Deve-se ao padre e escritor humanista francês François Rabelais
(1483-1553), a máxima que segue: A África
sempre traz alguma coisa nova, uma prédica que o autor deste texto, como
antropólogo africanista, não tem nenhuma dificuldade em confirmar.
O dado novo deste texto (ao menos, creio eu, para a maioria dos
possíveis leitores), é a existência de uma comunidade de africanos descendentes
de húngaros que está desde séculos, assentada na Núbia, no Norte do Sudão.
Nos anos 1930, o explorador húngaro László Almásy (1895-1951),
misto de aventureiro e estudioso da África, encetou expedições no continente
com repercussão internacional.
Com efeito, László Almásy organizou as primeiras expedições
motorizadas que atravessaram o Saara, percorrendo o interior do deserto, o vale
do rio Nilo e alguns dos sítios menos conhecidos do Planeta, como a Meseta de
Gilf el Kebir e o enigmático Oásis Zarzura, rincões localizados nos confins
fronteiriços saarianos da Líbia e do Egito.
Assim foi que em 1935, atravessando a região do Wady Halfa, no
norte sudanês, László descobriu um grupo inteiro de núbios, autoproclamados magyarabs,
que mesmo separados por séculos da nação húngara, mantinham claro sentimento de
identidade própria, entendendo-se como diferentes de todos os demais vizinhos.
Com efeito, pesquisas de László Almásy e de vários antropólogos,
confirmaram que de fato, os magyarabs, resultaram da mestiçagem de
soldados húngaros a serviço do Império Otomano que chegaram à Núbia no início
do Século XVI, quando então, se uniram a mulheres africanas locais. Contudo,
sempre mantendo consciência de uma linhagem húngara.
De fato, esta compreensão está explicitada no próprio nome do
grupo: o etnônimo magyarab, composto de dois termos: magyar (como os próprios húngaros se autodefinem) e ab (significando tribo, ramo ou linhagem
no idioma núbio), desdobrando-se, pois numa tradução direta, em “tribo dos
magiares”.
Os magyarabs, atualmente somariam, a considerar as estimativas de
Mohamed Hasan Osman, porta-voz da Associação dos Magyarabs, entre 50 a 60 mil
pessoas. Outras fontes, como o orientalista István Fodor, calcula seu número
entre 10 a 12 mil. Porém, independentemente do número exato, o que ninguém põe
em questão é que os magyarabs são por definição, “a tribo húngara da África”.
Atualmente, os magyarabs ocupam vilarejos próximos do Lago Nasser,
reservatório que surgiu a partir de 1960 com a construção da represa de Assuã e
que inundou o território ancestral do grupo, a região do Wadi Halfa, que por
sinal, apresenta topônimos derivados da palavra magiar.
No mais, a “tribo perdida" dos húngaros na África, mesmo que de
há muito tenham deixado de falar húngaro e de praticar o cristianismo, não
deixaram de se considerar magiares, tanto assim que orgulhosamente ingressaram
em 1992 na Federação Mundial de Húngaros.
O governo da Hungria não deixou por menos, apoiando os magyarabs,
que resguardando forte identidade como húngaros, têm estreitado as relações com
o país que afetuosamente entendem como a terra dos seus antepassados.
Faz séculos, quando perguntados sobre a sua origem, os magyarabs respondem: "Ana magyar". Isto é: Eu sou húngaro.
Com tamanha resiliência à mostra, quem pode duvidar disso?
MAURÍCIO WALDMAN
Jornalista - MTb 79.183-SP
Contato: mw@mw.pro.br
Maurício Waldman Textos masterizados: http://mwtextos.com.br/
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MORE INFO:
Magyarabs,
el pueblo nubio que procede de húngaros del siglo XVIMagazine Cultural
Independente - La Brújula Verde
O topônimo magyarab consta no Mapa Topográfico da região de Wadi Halfa, bem
próximo da fronteira com o Egito, peça elaborada pelo British War Office and
Air Ministry em 1960, disponível on line em:
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