terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

CHARLES BRONSON: O ÍNDIO QUE VEIO DA LITUÂNIA


O ator norte-americano Charles Bronson (1921-2003), foi um dos mais famosos intérpretes da indústria de sonhos de Hollywood. Sempre interpretando personagens durões, Bronson celebrizou-se em papéis nos quais destacava-se pelo estilo “bobeou levou chumbo”, “atire primeiro e pergunte depois” ou então, “bateu, levou”.

A popularidade do astro rendeu-lhe uma verdadeira fortuna. Sendo sucesso de bilheteria por definição, o artista faturava alto em cachês milionários. Nos anos 1970, enchia o bolso com um milhão de dólares por filme rodado.

Mas, se a trajetória de Bronson como artista de cinema era unanimidade, a origem do ator sempre foi alvo de controvérsias. O motivo: os traços do ator, a começar pelos olhinhos puxados, que eram entendidos como sinal de ascendência indígena, mexicana ou então, como fruto de algum tipo de mestiçagem com não-europeus.

Ledo engano. Bronson, nascido Karolis Dionyzas Bučinskis e registrado no cartório de Ehrenfeld, na Pensilvânia, como Charles Dennis Buchinsky (transliteração de Bučinskis), era filho de pai lituano e de mãe polonesa, ambos muito pobres, que sobreviviam a duras penas para criar os 14 irmãos e irmãs do futuro astro na região das minas de carvão dos Montes Apalaches.

Todavia, não só isso. O pai de Charles Bronson, Valteris Bučinskis, não pertencia à etnia lituana, majoritária no país de onde imigrou para os EUA. Valteris era tártaro, membro de uma minoria étnica em grande parte muçulmana (Valteris era católico), conhecida como lipka tatar na Lituânia e como tatarzy polscy, na Polônia, povo que alcançou a Europa Oriental junto com os exércitos do temido (e terrível) Gengis Cão.

Instalados no Reino Dual da Polônia-Lituânia, durante séculos os tártaros serviram com grande brilho na cavalaria (por sinal, uma típica expertise mongol) e como soldados de elite nos exércitos dos países adotivos, saindo-se vitoriosos em sucessivas batalhas contra invasores e agressores estrangeiros.

No Século XX, milhares de tártaros poloneses e lituanos imigraram para os Estados Unidos, seguindo para diversas regiões da terra do Tio Sam e em particular, formando uma sólida comunidade islâmica, The Islamic Center of Polish Tatars, no bairro do Brooklin, em Nova York.

A este respeito, breve parêntese: Um tio avô polonês, que imigrou para os States nos anos 1930, morava próximo da mesquita dos tártaros. Estranhando o visual destes adeptos da fé de Maomé, foi informado pelos vizinhos de que eram índios convertidos ao islamismo

Meu tio avô não gostou dos Estados Unidos e retornou para a Polônia, aonde viria a morrer durante o Holocausto. Contudo, passou a narrativa deste episódio sobre os tártaros aos parentes e assim, esta história chegou aos meus ouvidos quando criança.

Voltando ao nosso fake índio, que obviamente era a cara do pai (honrando o dito popular “tal pai, tal filho”), Bronson sempre assumiu sua identidade lipka tatar e lituana (falava lituano fluentemente), e no caso do país de origem do pai, sua lealdade motivou-o a mudar de sobrenome.

Inconformado com a ocupação soviética da Lituânia, que manietou o povo lituano numa autêntica algema de lágrimas, e sendo anticomunista de carteirinha, Bronson tirou do RG o sobrenome Buchinsky (americanizado para Bronson), que soava como sendo russo, fato que criava ainda mais confusão para alguém que era tido como índio. Por esta via, quem sabe, não poderia ser definido  como um índio russo?

Assim sendo, o falso índio (ou mexicano) Charles Bronson nos demonstra a volubilidade das paixões humanas. Para os que gostavam de Bronson, nunca importou a origem do célebre ator. Por outro lado, a genealogia muitas vezes é recordada como um handicap dirigido aos que não são gostados.

O caso de Bronson revela também o papel pivotante das percepções e dos estereótipos, que por sua inconsistência, nos lembram, uma vez mais, que o importante mesmo é o que a pessoa é. A origem, tanto faz.

Disto decorre uma nota essencial: cada um é o que é, e esta condição não pode ser objeto de estigmas, nem de exclusão. Apenas deve ser aceita. Simples assim.


MAURÍCIO WALDMAN
Jornalista - MTb 79.183-SP
Contato:

mw@mw.pro.br
Maurício Waldman Textos masterizados: 
http://mwtextos.com.br/


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