quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

A MULHER QUE PEITOU O AIATOLÁ KHOMEINI



Oriana Fallaci (1929-2006), escritora e jornalista italiana, foi uma das mais influentes profissionais da imprensa no Século XX. Natural de Florença, envolveu-se com o ativismo político desde a mais tenra idade. Aos dez anos, participava da resistência ao fascismo e à ocupação nazista da Itália, e por esta razão, foi condecorada pelo exército italiano aos 14 anos.

Não havia nada que “La Fallaci” gostasse mais do que enfurecer aqueles que pensavam ser seus pretensos amigos e aliados. Não deixava pedra sobre pedra: questionava conformistas, emparedava “fascistas vermelhos”, os defensores da Guerra do Vietnã e os apaziguadores da opinião pública.

Feminista, Oriana Fallaci foi também destacada defensora dos direitos da mulher, e nunca abriu mão deste ativismo, sendo um dos seus alvos, o inconformismo que manifestava ao que entendia como imposição da passividade e submissão das mulheres através da Sharia, o código religioso muçulmano.

Em 1979, seguiu para o Irã para entrevistar o Aiatolá Khomeini. “La Fallaci” bombardeou o sisudo líder com questionamentos sobre comportamento ditatorial, despotismo e é claro, sobre a situação da mulher no Irã, detendo-se na obrigatoriedade do véu islâmico, que a jornalista fora obrigada a colocar para entrevistar Khomeini.

“Nossos costumes”, respondeu Khomeini, “não são da sua conta. Se você não gosta da vestimenta islâmica, nossos costumes não dizem respeito a você, porque a vestimenta islâmica é boa e adequada para as mulheres jovens e respeitáveis”.

“Muita gentileza da sua parte”, respondeu Fallaci. “E aproveitando o ensejo, vou tirar esse farrapo medieval e ridículo, agora mesmo”. Fallaci jogou fora o véu e deixou o recinto sem dizer nada.

No dia seguinte, fazendo um dos repetidíssimos discursos com acusações contra o Ocidente, Khomeini, contrariado, mencionará o encontro publicamente, chamando Fallaci de “aquela mulher” e culpando os “inimigos” do Irã por procurarem “ludibriar um punhado de meninas para que tirassem suas hijabs na rua”

Hoje, milhares de iranianas, seguindo “aquela mulher”, estão organizando protestos sucessivos contestando o uso obrigatório do xale, uma mulher que tem nome: Oriana Fallaci.  

MAURÍCIO WALDMAN
Jornalista – MTb 79.183-SP
Contato: mw@mw.pro.br



  



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MORE INFO:

Jornal Corriere Della Sera

Chronicles from the Holocene

The Independent’s

http://www.oriana-fallaci.com/

2 comentários:

  1. Leitura muito interessante! Não conhecia a história nem o trabalho desta fantástica e corajosa mulher. Grata pelo texto!

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