sábado, 15 de agosto de 2015

WILLIAM RATHJE: O ARQUEÓLOGO DO LIXO


William Laurens Rathje (01-07-1945 / 24-05-2012), ou Bill Rathje, como também era conhecido, foi o primeiro arqueólogo a dedicar-se ao estudo científico e sistematizado do lixo urbano, estabelecendo metodologias e conceitos apropriados a este tipo de investigação.

De origem norte-americana, Rathje formou-se na famosa Universidade de Harvard. Exerceu magistério como professor emérito de antropologia da Universidade do Arizona, participou de investigações arqueológicas sobre a civilização maia na América Central e na condição de professor consultor, integrou o quadro acadêmico da Universidade de Stanford.

Mas, a grande contribuição de Rathje foi o Tucson Garbage Project. Este programa tinha por foco a investigação dos modelos de comportamento social explicitados nos resíduos residenciais na cidade de Tucson, no estado do Arizona, EUA.

O Tucson Garbage Project, a partir da análise do lixo domiciliar, trouxe à luz os padrões de consumo dos cidadãos desta cidade, assim como as contradições entre a auto-imagem dos pesquisados e seu comportamento real, detectado pelo que era encontrado pela equipe do projeto nas lixeiras e nos cantaineres.

Iniciativa sem precedentes, o Tucson Garbage Project identificou níveis de desperdício, hábitos sociais, bem como os padrões de consumo imperantes nos domicílios.

A sagacidade da proposta de Rathje residiu na sua capacidade de questionar explicações esquemáticas e de propor novos modelos de interpretação sobre a questão dos resíduos sólidos, complementando-os com informações oriundas de outras modalidades de coleta de dados.

Neste particular, Rathje advertia constantemente para a necessidade de situar os resíduos no tempo e no espaço para que deste modo, tornem-se evidentes as matrizes geradoras dos refugos, tanto no referente às suas peculiaridades como também, nas conexões mantidas com os dinamismos sociais, culturais e econômicos mais amplos.

A partir deste trabalho, William Rathje lançou proposta absolutamente inédita, a Garbology, uma especialidade que começou a ser difundida como ciência justamente a partir de 1973, com o início do Tucson Garbage Project.

A Garbology, junção das palavras inglesas garbage (“lixo”) e archeology (“arqueologia”), graças aos esforços de Rathje e dos seus discípulos, os garbologists, firmou-se ao longo dos anos como um campo disciplinar específico, constando como cadeira acadêmica em inúmeras universidades do exterior.

A obra visionária de Bill Rathje granjeou-lhe fama mundial. Em 1990 recebeu o Prêmio Compreensão Pública da Ciência e Tecnologia, oferecido pela Associação Americana para o Avanço da Ciência.

Neste momento, Rathje foi homenageado por “contribuições inovadoras para a compreensão pública da ciência e seus impactos sociais, demonstrando com seu criativo Tucson Garbage Project como o método científico pode documentar problemas e identificar soluções”.

Por fim, caberia um comentário final anotando que infelizmente, no Brasil, ao contrário do que acontece nas análises formuladas no exterior, a palavra Lixologia, além de virtualmente desconhecida do léxico cotidiano, é amplamente ignorada pelo meio acadêmico.

Para conferir, desde 1975, isto é, quarenta anos atrás, o prestigiado Oxford English Dictionary já registrava a terminologia. E mais: reportando-a ao trabalho de Rathje.

Enquanto em inúmeras nações e universidades os termos Basurologia e Garbology (Lixologia respectivamente em língua castelhana e inglesa), constam como palavra dicionarizada, integrando o léxico vocabular e o jargão científico, no Brasil a Lixologia segue solenemente desconhecida. Isto quando não é motivo de chacota.

Trata-se de uma lacuna que pelo mínimo, motivaria mais atenção por parte da comunidade acadêmica brasileira estudiosa dos resíduos. Mais do que passou da hora de discutir o promissor veio de investigações proposto por Rathje.

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